Medíocres e Patéticas Pessoas

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terça-feira, fevereiro 27, 2024

Espero que depois da tempestade, venha a bonança


Depois do que tenho passado, ainda estive a semana passada no limbo entre a vida e a morte. Por sorte ou por mão divina, ou pelo que seja, ainda cá fiquei. 

O tempo que estive no hospital a lutar por ficar melhor, era suposto ser a minha semana com os miúdos. Em nenhum dos dias, deixaram os miúdos visitarem a mãe. E não foram os médicos. Mas não interessa. Eu sobrevivi e pude e posso estar com eles, fora do hospital. Eu tenho notado que desde que terminei a minha relação com o progenitor dos meus filhos, a relação com os pequenos (bem o Diogo já está maior que eu, e a calçar o 41 e meio, mas não vai deixar de ser o meu pequeno, ou como eu o chamo o "meu pequeno maior") tem-se fortalecido. Porque eu voltei a ser eu. Deixei de ter medo, sou mais independente, lutadora, forte, mais activa na vida deles e eles notam que a mãe já não é nenhum fantoche e gostam do que vêm :). 

Mas eles, como normal, assustaram-se pela mãe estar doente no hospital. E pediram para ficar mais uns dias comigo. Depois de muito drama e emails ofensivos, lá puderam ficar até hoje. 

Não sei se foi o medo da parte deles, ou a falta que sentiram de estar comigo nesta semana, houve mais perguntas sobre mim, sobre outras coisas que não vou falar aqui... 

Uma das perguntas foi sobre meu pai. Já tinham feito perguntas sobre ele, mas coisas mais simples. Mas hoje foi um interesse maior. Como ele era comigo. Como ele brincava comigo. Como ele me tratava. Se ele me proibia muita coisa, ou era mais aberto. Não sei se para compararem com o pai deles, ou se para saberem mais de nós. 

Sei que isso me levou ao passado. Ao falar dele, volto a ter saudades daquela relação que muitos têm com os pais, eu sei, mas para cada um de nós, quando a relação é boa, parece sempre a melhor do mundo (e que eu não posso voltar a ter). Especialmente quando não temos mais essa pessoa por perto. E a minha relação com o meu pai era a melhor do mundo. Na minha mente era a única que fazia sentido na minha vida até há algum tempo. Agora percebo que ele não me deixou sozinha. Ele sabia que eu ficaria bem. Demorou muito tempo mas sim, eu agora percebo que estou bem. Voltaremos a isto mais à frente. 

Senti um orgulho enorme a falar do meu pai. Um homem com H grande. Amigo, fiel, bom marido, excelente pai, preocupado com o bem estar de quem amava e com muitos amigos. O funeral mostrou isso. também lá estiveram pessoas que não interessavam, mas bom.. isso são pormenores. E não irei divagar sobre isso agora. 

Seja como for, fiquei de peito cheio a falar do meu pai, das minhas memórias com ele que guardo comigo. Foi um espetáculo sentir o interesse dos miúdos nele e eu falar dele assim. 

Depois deixei-os em casa do progenitor e vim para casa a pensar. 

Certo cometi erros que me marcaram e marcarão para vida. Mas nem tudo foi mau. Tenho dois filhos espetaculares que amo e farei de tudo para os proteger contra tudo e todos. E estarei sempre aqui para e por eles. Mas apesar de tudo o que fiz de mal na vida, que digamos não foi só a má escolha de parceiro, eu sou boa pessoa. O que ele foi  como pessoa, o que aprendi dele e da minha mãe, começa a ter efeito na minha mente agora. Agora que volto a ser eu. E senti-me feliz, como já não sentia há muito tempo. 

Porquê? simples... Porque sei que se ele fosse vivo, estaria feliz e orgulhoso da mulher que, apesar de todas as dificuldades que tive na vida, me tornei. Eu não acredito na vida após a morte, pois para mim não faz muito sentido Deus, um ser tao bom, nos tirar deste mundo para pairarmos no ar e não termos o merecido descanso. Mas se ele fosse vivo, eu sei e sinto-o cada vez mais que estaria orgulhoso na mulher que me tornei. Na mãe que sou. Na profissional que me tornei e aprendi a ser. Na lutadora que me tornei. Na força que tenho. No facto de como não perdi o amor. Amor à vida, amor às pessoas que me fazem bem. No amor que tenho de ser feliz. Na minha forma de ver a vida em forma de brincadeira. Mais leve. De por muita dor que tenha passado e de me ter perdido em muitos momentos, nunca ter perdido a maneira de ver o mundo. Com positivismo. Com alegria. De tentar sempre fazer os outros sorrir, mesmo quando a situação só deixa lagrimas. De mesmo depois de tudo não perder a fé de que há mais boas pessoas no mundo. De que não importa o mal que me façam, eu sempre vou fazer o bem. 

Eu estive quase a morrer no hospital e não me fechei em mim. Ajudei quem precisou. Não porque queria algo em troca, mas porque sou assim. Eu estou mal, mas se posso, vou sempre facilitar a vida aos outros. E sinto-me bem com isso. eu ajudei no que pude em traduzir e criei uma ligação especial com uma senhora de 64 anos que tinha o cérebro de alguém com demência. Gostaria muito de a voltar a visitar, deixe o meu numero de telefone com os filhos, mas se não me contactarem não a vou poder voltar a ver. O que me fez pensar em voluntariado. Veremos no que isso se vai traduzir no futuro, porque este país é tão complicado que até para fazer voluntariado parece ser preciso um curso.. Mas veremos. espero ver a D. Maria. A outra amiga que fiz, será mais fácil por o mundo ser pequeno e ela viver perto de mim e eu ter ficado com o numero dela.  :)

Seja como for. Foi isso que os meus pais me mostraram. Ser amiga, ajudar quem precisa, por muito mal que eu esteja, sem querer nada em retorno. só porque isso me faz sentir bem. Porque sei que se eu estivesse na mesma situação, eu gostaria de ter alguém que me fizesse o mesmo. Porque sei que num mundo tão corrupto, ser bom é o único que pode realmente fazer a diferença. 

Desta forma, eu sei que o meu pai, apesar de tantas más escolhas que fiz na vida e poderei fazer, os princípios estão ca e foram sempre o que me fizeram sobreviver até agora, por muito que muitas pessoas me tentem derrubar e me tornar numa má pessoa. Isso nunca irá acontecer. Eu sinto-me bem naquilo que me transformei ao longo dos tempos. E não me importa o que falem de mim, o que me julguem. O importante é que sei, que meu pai se fosse vivo iria ter orgulho em mim e nele próprio por ter tido a influencia dele na minha personalidade, que muitos gostam, ao contrario do que me fizeram acreditar nestes últimos tempos. 

E como ja referi antes se sou um muro, sou pelo que me fizeram ser. Tanto pelos princípios que me incutiram, tanto pelo que a vida me obrigou a ser. E sinto-me orgulhosa. Porque muitas outras pessoas deixariam de perder o amor a vida, o amor a ela própria. O amor a tudo e a ser brincalhona para lutar com o mal dos tempos actuais. 

Mas ninguém conseguiu. Se deus nao me tirou eternamente o amor a vida, quando perdi o meu pai e os meus avos da forma que foi em um ano, nao sera um homem sem caracter e cobarde que o ira fazer agora. 

Eu sou eu de novo. E não ha melhor sensação que essa. Ser eu. Não o ser livre. Não ser despreocupada. Mas Ser eu. Ver o lado positivo em tudo na vida, a sonhar, a desejar mais do que a vida me poderia oferecer e agarrar-me a isso para poder lidar e lutar com o mal que a vida te oferece!

Obrigada seja a quem for por me dares esta vontade e força, que ate agora muita coisa abalou, mas nada conseguiu apagar!  

Obrigada ao meu pai, o meu muro, aos meus avós, que me cuidaram, à minha mãe que me tem apoiado, aconselhado e incentivado, e sofrido por vezes comigo à distância, à minha irmã, por corresponder ao papel de irmã mais velha, sem nunca exigir nada em troca, só porque sim! Aos meus amigos que me têm dado força para continuar a ser quem sou e que me dão vontade de continuar a ser assim e a tentar da minha forma ser o mais feliz que posso.

E aqui fica o meu post. Com um, pai ainda não foi desta que nos encontramos. De certeza que não me querias ver já. ;)

Obrigada por teres me deixado de exemplo a tua maneira de estar, a tua força e forma de veres a vida e estares com os outros, que me parece ter sido um remédio melhor, do que o que o Dr House poderia ter descoberto! :) 


Para tua sempre,

Calica




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