Medíocres e Patéticas Pessoas

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terça-feira, abril 05, 2016

A minha vida em caixas

Só quem teve de sair do seu país, saberá mais ou menos o que quererei dizer com isto: a minha vida em caixas. 
Pela primeira vez consegui estar já há praticamente 4 anos no mesmo sítio, mas mesmo assim continuo a ter coisas da minha vida em caixas. E acho que nunca deixarei de ter. Tanto sem sentido físico, como em sentido figurativo. 
Sempre vivi em Anadia. A primeira vez que tive de pôr as minhas coisas, a minha vida em caixas, foi com 11 anos. Mudei de casa com os meus pais, avós e irmã. Na altura os meus pertences eram sacos de bonecada, que a minha avó tão gentilmente deu como estragados e eu nunca mais os vi. Só alguns se safaram à ceifada da tragedia da vida de perder o que nós pensamos ser nosso. 
Foi a minha primeira desilusão na vida. Tanta barriguita. Tanta nancy, barbie, pinipons... Já nem sei bem o que lá estava..
Enfim...
Depois disso, aos 18 parte da minha vida foi empacotada. Novo destino Coimbra e o mundo universitário. 
Aos 20 depois da tragedia da minha vida de perder o que pensei ser eterno, mais caixas. Desta vez só malas. Destino Brasil, Salvador da Bahia. Um ano depois regressar com as caixas a Portugal. Trouxe mais bagagem na minha mala. 
O peso que carregava agora era ainda maior.
Depois Coimbra de novo e aos 22 Porto. 
Com 23 o destino trocou-me às voltas e empacotei a minha vida atrás do amor. Esvaziei o que durante este tempo carreguei comigo. Levei comigo so o que  pude. Tive que deixar para trás o que não podia trazer nas caixas.
Só empacotei o que pude para ter espaço para encher mais a bagagem com a via que por si se aproximava. 
Emigração. Destino: Suíça. 
Aqui a vida também não se conseguia fixar num só lugar. Num ano 3 moradas diferentes e muitos problemas a encher as minhas caixas. 
Tínhamos de tentar resolver o assunto pensamos. 
Regressar ao nosso Sitio. De onde as caixas nasceram. 
Esvaziamos os bolsos todos em Portugal. E 9 meses depois... Não nasceu nenhuma criança. Perdemos foi o nosso dinheiro e as caixas da vida regressaram à Suíça mais vazias ainda do que foram.
E pronto, como não podia ser so rosas. Tivemos problemas familiares e fomos expulsos e traídos de onde nunca pensamos ser. Malas e caixas as costas um mês após o regresso à Suíça! Para um pouso temporário. Mais um mês depois e finalmente as nossas caixas descansam no mesmo sítio onde finalmente conseguimos criar memórias e felicidade que possa encher as nossas caixas. Mas que possam permanecer assim em descanso e a serem preenchidas! 
Mas mesmo assim não tirarei tudo das caixas. Nem me desfazerei delas. Elas contam a minha história.
Os meus altos e baixos. As minhas memórias. A minha vida!