Medíocres e Patéticas Pessoas

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quinta-feira, novembro 22, 2018

O meu eu fora do meu país


Quando regresso a "casa" sou confrontada com a ideia do que realmente significa estar longe.
 Não que não pense nisso enquanto estou fora, mas a realidade bate-me na cara ao vivo e a cores quando ponho os meus pés na minha terra. 

Estar noutro país, não é o mesmo que mudar de cidade. As pessoas certamente também não se vêm com a mesma regularidade, porque cada um tem a sua vida. Mas não é a mesma coisa perder o contacto visual e acrescentando a isso, sair da sua cultura. Por muito diferentes que as cidades portuguesas sejam, a cultura é a mesma. A língua é a mesma. 

E é mais fácil pegar no carro umas horas para visitar um familiar, ir a um casamento, jantar com amigos, do que pegar no avião (quando se tem disponibilidade financeira e de tempo), ou num carro para fazer dias de viagem, para os mesmos efeitos, estando noutro país. Especialmente se esse país tem dos aeroportos mais caros do mundo e não houver assim tantas viagens low cost e a opção mais em conta é mesmo ir de carro (não, não fazemos rios de dinheiro... aqui também se contam os tostões, sem passar fome, mas não há nenhuma árvore das patacas no quintal)... 

E ver as pessoas uma vez por mês ou de dois em dois meses, não é o mesmo que ver os amigos de ano a ano e por umas horas, porque é tanta gente para visitar e queremos estar com todos... E em vez de se passar horas ou dias com os amigos, passamos uns momentos rápidos. Alguns parece até que nem chega a mais de um olá e até pro ano...

Quando regresso a "casa", vejo que já não tenho a "casa" que deixei. Que os amigos também cresceram e envelheceram. Que cada um criou a sua família e a sua vida e não esperam pelo meu regresso da mesma forma como eu anseio por isso. Que na correria da vida deles, eles também terão de fazer férias e a vida deles não pára, só porque eu regresso. Uns porque tiram férias e vão para outros sítios, outros porque tiram férias noutras alturas e estão a trabalhar...

Quando se sai do país o tempo não pára num sitio e evolui noutro. Assim, com o tempo até nos podemos sentir mais integrados no país de acolhimento, mas nunca seremos de lá. Aqui onde estou, basta o nome ser diferente, mesmo tendo nacionalidade de cá ou nascendo cá, será sempre estrangeiro... Portanto, por muito grata que esteja de ter trabalho aqui, que nunca consegui no meu país, não posso sentir-me totalmente agradecida, pois fazem questão de me mostrar a todo o tempo a sorte que tenho e quanto eu não sou de cá!

Ao mesmo tempo, quando abandonamos a nossa "casa", ela deixa de ser nossa... Passa a ser um local onde viveremos um mês ou dois por ano, por empréstimo. Mesmo que a casa fisicamente seja nossa. Ela passa o tempo todo vazio à nossa espera e finalmente quando ela se habitua a nós, temos de vir embora. E o mesmo com os nossos amigos e familiares. Quando finalmente eles têm tempo para nós. Quando finalmente se habituam a ter uns minutos para café connosco, temos de ir embora... Sair, mesmo que não tendo desistido do mau país, mas apenas não tive outra hipótese, fez com que também já não me possa sentir mesmo de Portugal. Porque a minha realidade, mesmo que sem grande vontade, não é lá. É aqui, onde vivo...

O estar longe implica tudo isso e mais. Quando se decide criar família fora do nosso país acrescem outras complicações.
A visão de regresso ao país de origem começa a tornar-se menos clara. O desejo de regressar pode vir a ser bloqueado pelo futuro dos nossos filhos. Para além disso, como pais temos de ver anualmente os nossos filhos sentirem-se felizes perto da família e esse brilho desaparecer com o regresso ao país de acolhimento, que no caso deles já vêm como casa. 

Todos os anos temos de impor aos nossos filhos férias no mesmo país. E, na maioria dos casos, uma viagem de horas de carro, onde acabamos nós pais por perder a paciência com tantos "Já chegámos?; Estamos em que país?; Quando chegamos? Quantas horas faltam? Preciso de ir a casa de banho; Estou farto de ir sentado"... e por aí fora... perdemos a paciência mas sabemos que não podemos gritar nem reclamar, pois eles não escolheram emigrar, porque não é por causa deles que vamos tanta hora de carro e porque eles é que no fundo têm sempre paciência para nos aturar com estas férias. 

Junto a tudo isto vem: ter um filho num país que não é o nosso e que eventualmente será o do nosso filho. Consequências? Muitas, começando logo com a gravidez. No segundo filho já não foi tão complicado, por eu já ter aprendido a língua. Mas o primeiro... 

Antes de tudo encontrar um médico que fale a nossa língua. Ou inglês pelo menos. Depois rezar para que ele seja bom. O que não aconteceu no meu caso. Procurar um segundo médico que era bom, mas não falava inglês. Ter de levar sempre o marido que já falava melhor e dizer sempre que sim a tudo com a cabeça, sem perceber nada!

Depois na maternidade. O parto... já é dificil em português com tanta dor. Imagine-se num sitio onde falam alemão e alguns lá se esforçam para o inglês (o segundo parto, já foi outra realidade, tendo aprendido mais a lingua tornou-se mais fácil, mas mesmo assim com as dores houve momentos em que falei estilo "eu ser Jane") A sorte é puder dizer asneiras em portugues que ninguem entende! :)  

Depois a parte seguinte. O regresso a casa. Onde estão os avós? Os tios? Os primos, os amigos... Nada... Só nós... Estamos a falar do primeiro filho. Bom, como qualquer mãe, tenta-se fazer o melhor e ir aprendendo com os filhos. Mas no nosso caso, depois quando precisamos de chorar no colo da mãe, ou repartir noites mal dormidas, não há disso... Aguentar a coisa e chorar no colo da almofada! E pedir conselhos via skype, sempre sorrindo e entre olheiras dizer que está tudo bem!

Aliás essa é a forma como os nossos filhos desde pequenos aprendem a conhecer os restantes membros da família Skype, Messenger, Whatsapp: Os parentes moram nos telemóveis, computadores e nos tablets. Não todos, pois as novas tecnologias não chegam a casa de todos, nem a todas a gerações! Por isso alguns só mesmo de ano a ano!.... E lá terão de se contentar com isso. E com as histórias que lhes contamos, porque os nossos filhos já vivem outras realidades, sem essas pessoas das histórias incluidas diariamente ou semanalmente nas suas vidas. 

E depois os filhos vão crescendo. A vida deles começa a ganhar raízes num país que não é o nosso. Os amigos deles estão todos aqui. Tal como os nossos estão na ponta da Europa. E estudam aqui. Falam melhor a língua que utilizam na escola, do que a de casa. E a realidade deles é onde cresceram, não onde é divertido passar férias. Por muito que gostem das férias, não é a casa deles. É a nossa e, com o tempo, acabamos por não nos sentir no direito de os obrigar a ir para um país que os acolherá de braços abertos, mas não é o deles. Não podemos obrigá-los a fazer o que nós fizemos e o que nos custou. Então eles crescem aqui, estudam aqui e provavelmente não vão partilhar do desejo de voltar a Portugal, porque eles não voltam, uma vez que não foi de lá que eles saíram! 
E se assim for, namoram e acabam eventualmente por casar aqui. E os pais, caso decidam mesmo isso, acabam por regressar, mas será que depois vale a pena? Quem vai estar à nossa espera? E compensa deixar cá quem nós criámos? Esta é depois a grande questão final da vida de um emigrante... regressar como sempre se desejou, ou continuar onde o coração não mora?Tudo porque nosso coração irá certamente continuar incompleto, agora não por estar no país que tanto se ama, mas pelos filhos que valem a nossa vida terem ficado no país deles que não é o nosso....

Portanto, um emigrante terá um vazio eterno... Por não sermos de nenhum lado e em lado algum nos sentirmos completos... Nem no futuro seremos de onde regressamos, nem de onde partimos... 



Por todo o lado já começo a ouvir falar em férias de Natal e planos para regressar à terrinha... Eu por cá ficarei... como praticamente todos os anos... este ano, não vai ser possível chegar espampanante com as minhas lantejoulas e o meu carro de luxo à terrinha! Não vou poder causar inveja, com os rios de dinheiro que ganho no estrangeiro a lavar casas de banho, que era algo que eu jamais faria no meu país. E não vou poder levar a minha mala louis viton à praça no Sábado, que comprei porque passo fome na Suíça.... #ironia
Portanto vou ter mesmo de ficar por aqui, porque o dinheiro não chega para tudo e quando se investe no futuro, há coisas que têm de perder prioridade. E certamente não passo fome por isso! 🤪😁 Além de que normalmente eu já não costumo ir nesta época para poder poupar os meus trocos e dias de férias, para aproveitar melhor no verão, senão o tempo ainda passa mais rápido (visto que eu só tenho por ano 4 semanas de férias, do meu trabalho que em nada tem a ver com limpezas). E ir de carro (que não é nada luxuoso, mas sim de família) por uma semana, seria tempo perdido.
Depois há sempre a questão dos cães, que não me permite ir a qualquer lado quando me apetece de avião.
E portanto vou ter mesmo de continuar por cá com a minha mochila sem marca a lutar contra o frio que se sente por cá! eheheheh
Sim, é verdade; nem todos os emigrantes são iguais!
Bons preparativos para as férias de quem vai e para as festas de quem fica, sejam vocês lantejouleiros ou não!! 🤣🤣🤣😂😍😍😘#bemhajaatodos #christmastime #nãosejammazinhospranóis 😁