Medíocres e Patéticas Pessoas

Medíocres e Patéticas Pessoas

terça-feira, maio 22, 2018

Sem saber quem somos

Vivo numa das cidade europeias mais importantes. Onde a mistura de culturas e as diferentes maneiras de encarar o mundo se nota assim que se coloca o pé fora da porta de casa. 

Há mulheres que se vestem como homens, homens que se vestem como mulheres. Uns de forma mais subtil que outros.












Há regras de comportamento que se por uns são quebradas, outros há que vivam para as denunciar. 
Idosos que tomam conta dos netos. Idosos que ninguem toma conta deles. 
Pessoas que vageiam nas ruas a falar com elas próprias, por não terem mais ninguém. Famílias gigantes que cruzam as ruas de Zurique sempre juntos, nem que seja para ir só ao supermercado comprar água. 
Jovens que lêm livros gigantes durante o seu percurso diário para a escola/trabalho, enquanto alguns mais velhos fazem ligações via skype em modo super loud na outra ponta da carruagem. 
Pessoas que conversam umas com as outras, sempre com os auriculares no ouvido. Pessoas que conversam umas com as outras por mensagens sem nunca terem tempo de se ver e outras que só conseguem conversar com o pensamento. 
Jovens sentados nos bancos a comer fast food, com gente mais velha ao lado fazer jogging. 
Homens, tatuados e cheios de piercings com cerveja na mão (e cheiro intenso a alcool de há decadas entranhado na roupa e na pele) vagueiam pelos cantos da cidade com os cães soltos super fiéis aos seus mestres, enquanto que a senhora da mala Michael Kors anda com uma sacola extra super fashion com um pincher la dentro a rosnar a todos que passam.

Indianos, Africanos, Europeus de leste a oeste, de norte a sul, Asiáticos, Norte e Sul Americanos, Latinos, o que for, há por aqui aos molhes. Cada um com a sua bagagem de cultura e maneira de visualizar os outros e o que os rodeia. 
Logo não é possível outra coisa senão uma grande confusão... Mesmo com tanta regra presente no dia-a-dia da vida citadina de Zurique. 
São regras por todo o lado desta cidade. Até na forma como se utiliza o WC. Penso que muitas pessoas que crescem com estes cutitis da vida, não sabem viver sem eles. Se devem sentir perdidos sem elas e, por isso, há aqui tanta gente que nem sabe bem quem é e com uma falha muito grande na cuca!  

Ora vejamos:
As raparigas escolheram uma moda e seguem-na desenfreadamente a ponto de parecerem copias 3D umas das outras. Calças puxadas até ao umbigo (que já na época que isso saiu ficava mal a muita gente), camisola curta por cima. Cabelos longos presos num rabo de cavalo todo pomposo, sapatilhas e aí vão elas. Todas maquilhadas com ar de quarentonas e nem mais de 13 anos devem ter. Esta será a versão porquinha das garotas.  Mas a versão geek desta moda, também é muito visivel. Depois chegam a uma idade mais avançada e já não sabem o que vestir. Andam para aí de sandálias e meias brancas por dentro... Ou de fato treino todas porcas e gordas... 




Mas os rapazes não são muito melhores. Só há duas variantes. Os mitras, com as camisolas de gorro, calças rasgadas, sapatilhas e a andar aos pulinhos (nunca entendi muito bem porquê), cabelos rapados de lado e mais compridos em cima, muita das vezes lambidos para trás, ou mais compridinhos para sacudir a trumfa quando se quer oferecer uma luta simpática a algum estranho que passe. Ah e não esqueçamos as tatuagens e piercings em tudo que é parte de corpo e, por veze,s até um cão grande para intimidar quem se meta com eles! 
E depois os betinhos, com calças rasgadas na mesma, acima do tornozelo, sapatilhas todas nice, e camisolas fashion. As sobrancelhas mais arranjadas do que muita mulher que para aí anda, todos perfumados e aí vai disto! Os penteados também há os lambidos ou então os mais compridos que dá para sacudir a parte da frente quando as babes passam! Depois em velhos, ficam a cheirar mal e com as tatuagens todas descaidas, mas ao menos fizeram o gosto ao dedo em novos!




Ora com esta pressão de desde criança serem independentes e aceites num grupo (aqui os miudos desde a idade pré escolar são por muitos pais e professores obrigados a fazer o caminho de casa-escola sózinhos e os que não fazem, como o meu porque eu não deixo, são vistos como crianças inferiores e com problemas), há tendência para imitar o comportamento, não dos pais nem dos professores, mas daqueles que querem ser seus amigos e acredito, que por isso a infância e adolescência sejam fases cada vez mais difíceis, tanto para os pais, como para os próprios adolescentes. 

Por isso temos tanta juventude a pensar que é alguém, a faltar ao respeito, a verem nas agressões as soluções para todos os seus problemas (além de que filmando isso e partilhando na net, dá muitos likes e seguidores), a se acharem importantes como as estrelas da MTV que tanto idolatram, a serem esquecidos pelos pais, porque dá jeito eles andarem já sozinhos e independentes, quando não se quer cuidar deles. 

A mim ainda me faz confusão, quando ouço as mães dos colegas do meu filho, que estão na primeira classe dizerem: "O meu filho chega a casa, almoça e sai e eu nem sei onde ele anda! E só volta a entrar quando tem fome!"... E já têm esta conversa desde a pré-escola (que pode começar aos 4 anos de idade)
E depois de tudo o que vejo na televisão (raptos, homicidios, desaparecimentos de um lado e psiquiatras do outro a dizer para não fazermos nada aos nossos filhos que els sabem sempre o que querem) fico confusa, sem saber se sou eu que sou muito conservadora e mente fechada, ou elas que são demasiado liberais...


Mas bem, não me quero meter agora por questões mais complexas... Cada um dá a educação que acha correcta. E o resultado logo se verá. 

Como dizia, antes de começar com as minhas divagações, anda tudo a tentar ser uma coisa que não é. Ou em alguns casos a serem aquilo que acham que são, pois na realidade não se encontram a si próprios, perdidos a viver tanta regra e tanto parecer. 
Com os meios de comunicação, aumentou a circulação da imagem da pessoa. A toda a hora somos bombardeados com as novas tendências dos ditos VIP, que nos transporta na ilusão de querermos o que eles têm e, como não conseguimos, ao menos tentamos parecer como eles. Eles próprios que tentam ter sempre uma imagem melhor do que os seus rivais, criando todo um ridiculo em muitos casos. 
E depois essa ilusão nos irá acompanhar a vida toda até sermos os tais idosos que já ninguem vai querer saber, porque é assim que nos estamos a educar uns aos outros (falo na generalidade, claro que graças a Deus à excepções). A não gostarmos de ninguém, só a fingir. A não nos preocuparmos com mais ninguém para além do nosso umbigo. Nem os  filhos são importantes, quando passam a ser vistos como um bloqueio para a vida dos pais. Sejam eles crianças ou adultos. Por isso se enchem as crianças com prendas, dinheiro, ou doces... (Sim, porque o açúcar é um veneno viciante e assim se tenta moldar a criança a estar sempre a nossa espera, por causa dos doces.) E os filhos adultos com falsas promessas e falsos comportamentos quando, seja porque motivo for, os pais necessitam dos filhos de novo. 


Anyway... tudo à nossa volta seria um bom aliciante para termos uma melhor identidade. Somos mais informados, temos cada vez mais uma maior igualdade de acesso (nem sempre, eu sei, mas muito melhor que há 20 anos atrás), temos mais aparelhos que nos permitem facilitar a vida. Então o que se passa? Porque estamos tão perdidos? 

Por isso mesmo. Pela facilidade da vida e pela dificuldade em vivê-la. Com tanta coisa que temos de ter e os preços que essas coisas têm, temos de trabalhar mais. Nos tempos livres temos de ter tempo para as coisas que temos de ter, pois ao fim ao cabo se gastou tanto dinheiro nisso. Acabamos por nos esquecer do mais importante:
Aquilo que somos. Aquilo que faz de nós o que nós somos -> Nós próprios e os que nos rodeiam, que nos amam e respeitam. 

E assim andamos perdidos. Não só nesta cidade. Mas no Mundo... E na vida... A vida que dizem ser nossa, mas que todos esses aparelhos, os governos, os patrões vivem por nós. A vida que já não sabemos se é nossa. A vida de quem já sequer sabe quem é...