Medíocres e Patéticas Pessoas

Medíocres e Patéticas Pessoas

terça-feira, dezembro 17, 2013

04.12.2013/ Introdução

Talvez devesse começar por me apresentar. Não porque pense que o meu nome irá ficar na sua memória, mas porque as minhas histórias podem ser semelhantes às suas, ou pense que pode aprender com elas. Nesse caso, iremos estabelecer uma espécie de amizade e, por isso, penso ser importante conhecer-me minimamente.
Prometo tentar não me alongar. Nasci no ano de 1984, não um ano de grande importância para a História da Humanidade (pelo que descobri, foi o ano em que a Apple lançou o seu primeiro Macintosh; Jaime Lusinschi torna-se presidente da Venezuela; mais de 4000 pessoas morrem na Índia, devido a um acidente químico; e o prémio Nobel da Paz foi entregue a Desmond Mpilo Tutu); mas foi de  importância para a história da minha família. Receberam a sua segunda criança, uma gravidez não planeada, mas uma vez surgida, tão desejada como a primeira. Cresci numa pequena cidade em Portugal, onde não há muito para contar nem muito para ver, mas perto de cidades importantes, como Aveiro e Coimbra, onde estudei e desenvolvi parte de mim. 
A minha família era da classe média, pelo que fui uma criança feliz e afortunada, tendo viajado mais que muitos dos meus colegas, fui a primeira a ter um leitor de CDs, DVDs, uma aparelhagem, internet e tv por cabo. Também tive duas cadelas lindas na altura (a mais pequena era terrível, ladrava e mordia, mas adorava-nos tanto que era melhor guarda que a grande). Vivia com os meus pais, irmã mais velha e avós, que, mesmo com 70 anos ajudaram os meus pais a criar-me e a minha irmã. Morreram quando eu já estava na universidade. Pelo menos sempre me viram preparar o meu futuro, mesmo que ele tenha seguido outra direcção! 

A minha casa era grande e ficava perto do liceu. O local ideal para as minhas primeiras amizades fugirem de onde  queriam fugir. Todo o furo, toda a tarde livre, a minha casa enchia-se de pessoas pequenas, com a ideia de perfeita noção da sua grandiosidade e a clareza do que o futuro trazia, quando na realidade não passávamos de adolescentes, sem qualquer perspectiva realística de futuro, nem a mínima ideia do que ainda teríamos para aprender. Algumas das quais foram as primeiras ridículas pessoas que conheci.
Nesta fase das nossas vidas os nossos pais passam de super heróis para velhos chatos, que nos obrigam a fazer coisas que não queremos e nos proíbem de fazer parvoíces, as quais achamos que são de tamanha importância, que até o Papa nos devia dar benção para as fazer! 

Se neste momento tenho adolescentes a ler estas palavras, vão surgir nas suas mentes vozes a dizer "os adultos têm sempre a ideia que sabem tudo, mas não percebem nada!". Sim, realmente é assim. Mas não totalmente. Os adultos tendem a assumir que tudo sabem, porque já foram adolescentes. Mas na realidade quando passam a adultos tudo muda. Já fomos adolescentes sim, que cometeram bastantes erros, que não desejam ser repetidos pelas novas gerações. Mas continuam a não saber tudo. As épocas mudam, as mentalidades alteram-se com elas, surgem sempre novas modas, novas tecnologias, novas formas de perigo que assustam os adultos e os levam a entrar em pânico, proibindo sem explicar. Por outro lado, os jovens entram na fase do super conhecimento, da total verdade e apenas ignoram o que lhes e dito e reclamam constantemente. 

No fim de contas é a teimosia de ambos os lados que não leva a consenso. Na realidade temos todos de aprender uns com os outros. Os mais velhos têm o conhecimento de vida, que os mais novos julgam ter, mas estão longe disso; e os novos têm a sabedoria do seu tempo, que pode trazer perspectivas diferentes aos mais crescidos. 

Na realidade os adultos ainda cometem erros, ainda não sabem em quem confiar, e é por esse mesmo motivo que tentam guiar os mais novos com o pouco que sabem, pois sempre sabem mais do que quem ainda não viveu certas coisas. De quem já não é tão ingénuo.

O que noto de geração para geração é que quanto mais têm, mais amorfos se tornam. Tudo lhes é garantido e a maioria não tem de lutar pelo que tem nem pelo que quer e tornam-se cada vez mais patéticos e depressivos. Perdem o lado de sobreviventes, de lutadores, não sabem o que querem nem o que precisam e, mesmo que saibam, as gerações anteriores boicotam o seu futuro, pois já se tinham patetificado e continuam a se patetificar. Mas esta discussão não a vou ter agora.
Acho que agora já dá para entender um pouco quem sou, por isso vou ao assunto que aqui me trouxe, primeiro tenho que contextualizar um pouco, mas já vão perceber. 
Quando eu era mais nova, tinha tudo planeado: eu era tão especial que tornar-me-ia uma cantora e actriz famosa, viveria nos U.S.A ou Inglaterra e só assim seria feliz. Não iria poder ter família, nem marido, pois não poderia perder tempo com isso. Planos idiotas de alguém que passava demasiado tempo em frente à televisão a assistir a MTV (a qual ainda não era inundada com seriados a fugir para o erótico - isto para ser simpática -, e ainda se podia ouvir música, todo o tipo desde Metallica a Whitney Houston e, pelos intervalos se podiam ver séries como Beavis and Butt e Daria, por exemplo). Planos que se alteraram quando perdi o meu lado especial, a minha genuidade, a mim própria. Em dois anos perdi os meus avós e o meu pai. E só quando conheci o meu marido me voltei a encontrar. Soa a cliché, mas no meu caso foi verdade. 
Também pensava que iria conhecer milhares de pessoas, das quais só poucas iriam ficar na minha vida e memória e, as restantes seriam tão pouco importantes, que me iria esquecer facilmente delas. E imaginava que mais velha, velha como a minha avó, a relembrar e reviver as histórias e as pessoas importantes que me marcaram, pela positiva, a minha vida. Acontece que na realidade, eu acabei por me casar e ter um filho - as razões da minha vida -, o contrário do que pensava, sendo dessa forma muito feliz (da forma que um consegue ser feliz neste mundo).

Não sou nem cantora, nem actriz e, acima de tudo não sou famosa. Realmente saí do meu país, mas não para os States nem Inglaterra e não pela fama. Saí pois o meu país não me deu outra hipótese e tive, como muitos, de procurar trabalho noutro país. Em Portugal tentei como jornalista e outras coisas, mas ou não recebi resposta, ou não tinha experiência de trabalho - algo que todas as firmas pedem, sendo ridículo, pois se todos pedem onde vamos nós arranjar experiência? -, enfim...

Acabei por vir ter à Suíça, Zurique, onde me forcei a aprender alemão e acabei por arranjar trabalho como assistente em contabilidade. Eu, que sempre fugi de matemática, por odiá-la. Irónico, não? 
Isto para traduzir que nem sempre o que sonhamos acaba por acontecer, ou será o melhor para nós. Os planos ajustam-se às mudanças dos tempos, das necessidades e da vida. 
Nunca pensei que a vida de adulto seria tão complicada. Desejei tanto ser adulta, para ser livre, para poder reagir, mas todos os dramas da adolescência não desaparecem, eles intensificam-se. Não quero assustar os jovens, mas a realidade é que com a liberdade acresce a responsabilidade e, a isso juntam-se problemas de dinheiro, contas para pagar, uma impressionante luta para manter tudo e equilibrar a vida do trabalho com a vida familiar e pessoal. 
Ninguém nos disse que a vida iria ser fácil, nós é que pensamos sempre que os adultos têm a mania que sabem. Para uns mais difícil que para outros, há quem julgue ter uma vida mais complicada do que tem e ainda quem a gosta de complicar. Mas a realidade é que como seres humanos complexos que somos, a nossa vida teria de ser um reflexo disso: uma complicação!

Quando me queixava dos que me insultavam na escola, das minhas amigas terem namorados e eu ser demasiado infantil para querer ter um e acabava por ser posta de lado pois elas tinham que namorar. Enquanto eu brincava com bonecas e jogos até aos 14, 15 anos, ignorava o facto de nesta altura ser mais genuína, de estes serem os meus melhores anos (podia passá-los sem ser tão gorda, mas bebia demasiada coca-cola...). Nessa altura eu conseguia tudo, eu sonhava mais alto, os sentimentos eram novos e eu vivia-os em exagero. Eu sabia perfeitamente que iria encontrar o amor da minha vida, esbarrando-me, literalmente, contra ele numa cena típica de filme, onde os livros caíam no chão e, tscharan, o amor acontecia. Na realidade, não fui de encontro com o amor da minha vida, mas ele tamb fez uma entrada típica de filme e agora temos o nosso próprio para contar e escrever sobre ele. Mas essa história e demasiado boa para ser contada nestas páginas!

Como eu comecei, eu realmente imaginava-me só a lembrar as boas pessoas que conheci, mas a realidade é que estou aqui, não tão velha como imaginei e, já a pensar nisso. Não só nas com quem estabeleci relações que aias perduram e que vão perdurar, mas também naquelas patéticas que criaram dramas e com eles me magoaram e eu, por falta de oportunidade ou por outros motivos, não pude reagir nem responder a provocações, acusações a filmes de tão baixa produção, dos quais nem tinha sido informada que iria fazer parte. Pessoas que não consegui trazer à razão, nem reagir nem responder. Já sei que o melhor seria esquecer, como muitos me dizem. Já o meu avô dizia que não se deve pedir às pessoas mais do que elas podem dar. Mas eu não sou assim, não consigo esquecer tudo. 
Sou humana e também erro, mas tento pedir desculpa e emendar assim que reparo no erro, ou me fazem aperceber dele. Também há erros que cometi que nem imagino, porque a solução da outra parte foi ignorar-me e, aí não há muito que possa fazer, pelo que o caso se encerra automaticamente. 
O meu problema é que, felizmente ou infelizmente, vivo as coisas demasiado intensamente. Quando amo dou a vida, mas quando essa relação é quebrada, quando há falta de respeito e a confiança é quebrada, eu simplesmente não consigo esquecer o que foi dito, feito ou do que fui acusada... Eu confiei profundamente na relação que tinha desenvolvido ou tentava desenvolver com essa pessoa, fechei os olhos às suas falhas, por não querer julgar, por achar que todos têm direito a outras hipóteses, porque cada um tem o seu passado. Vivo a relação intensamente, mas também os estragos por esta causados. E se chegar o dia em que me peçam desculpa, dependendo do que foi feito e dito, eu não consigo perdoar na totalidade, já que nunca vou esquecer nem deixar de odiar o que me magoou. Torna-se impossível, portanto, recuperar a confiança que outrora, por crueldade ou ignorância, foi jogada a perder por outros. 
Sei também que em parte, a culpa é minha. Não consigo dizer que não, tenho dificuldades em estabelecer limites e barreiras, muitas vezes, por não querer perder essa pessoa. O resultado é que partem então do pressuposto que tudo pode ser feito e dito, que eu acabo por esquecer, não ligar. Na realidade, isso transforma-me numa panela de pressão e um dia a tampa salta e eu digo "chega!". Aí a verdadeira face dessas pessoas patéticas revela-se e, a sua ignorância, atira-me para um lugar muito longínquo, de onde é difícil eu regressar. 
O problema é que não há como aprender a lição a 100%. Ninguém, por muito que te alerte, consegue explicar bem. Por muito que uma pessoa caia no erro de confiar em alguém errado e, com isso aprenda, há-de surgir uma dessas pessoas patéticas, com maior agilidade para se esconder que as outras, e volta-se ao mesmo erro. 
Sem dúvida que já devo ter magoado alguém, eu tento evitar, mas as diferenças de carácter por vezes têm esse resultado. A diferença é que eu não faço algo propositado, com intenção de me beneficiar a mim própria, com a intenção de denegrir a imagem de alguém, para melhorar a minha, de usar a pessoa e deitá-la fora, como se o papel rasgado se tratasse, para meu próprio divertimento. 
Isto não significa que não tenho encontrado pessoas, que realmente dão significado a palavras como amizade, respeito e amor. Mas infelizmente, essas medíocres e patéticas pessoas tornam partes do teu ser como que em bens estragados. Muitos dos males que me causaram já foram esquecidos, mas há outros que ardem e consomem de formas que nem consigo recrear por palavras. Aqui conseguirei desabafar o que, de certa forma, me vai na alma que, por vários motivos, não foi deixado sair no devido motivo. 
Certamente esse tipo de pessoas que coloquei no cesto como patetificadas, não pensam em mim, ou talvez me odeiem e nem irão ler estas palavras e, sejamos sinceros, se lerem talvez nem se percebam que estão aqui retratados.  Mas espero que a mensagem, de alguma maneira consiga chegar ao seu destino. Senão pelo menos anda por esse mundo fora! 






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